Editoral

Crônica de uma tragédia anunciada

O título deste Editorial é uma expressão comumente usada quando algo acontece e alguém diz que era um desdobramento óbvio. É muito fácil ser profeta do acontecido e dizer "eu avisei", depois do fato. No entanto, aqui estamos, avisando, antes: a situação da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Félix da Cunha é uma receita pronta para, em algum momento, virar tragédia. Faz anos que o Diário Popular e outros veículos da região falam sobre isso e, até agora, a burocracia (e talvez a má vontade) impedem que uma solução para os gritantes problemas estruturais da escola seja feita. No entanto, se houver um problema ainda pior, não foi por falta de alertas, emitidos pela imprensa, pela comunidade escolar e pelos vizinhos da instituição.

Apesar da qualidade técnica das fotos de Volmer Perez e da descrição textual de Victoria Fonseca na reportagem da página 3 desta edição, é difícil fazer um relato jornalístico fidedigno ao caos que é a situação. Fica difícil captar em um espaço de cinco colunas por 35 centímetros de altura tanta coisa que se vê no centenário casarão localizado no Porto: a caixa d'água torta e segurada por escoras, as salas com buracos enormes no teto e no chão, pedaços de vigas e ripas jogados no chão. Quem só olha as fotos, sem saber que se trata de uma escola, talvez jamais adivinharia a serventia daquele prédio.

Faz oito anos que a situação só piora e não é resolvida. Em um espaço com crianças e adolescentes, a chance de um acidente acontecer, seja por um descuido, seja por uma potencial tragédia estrutural ainda pior, é um fantasma que ronda a comunidade escolar. Imagina ser um pai e mãe que envia o filho para uma instituição de ensino sabendo que, ao lado, há uma parede escorada que pode vir a cair? Imagina ser um aluno e saber que sua escola tem salas interditadas por não ter mais telhado?

A educação de qualidade é o pontapé inicial de qualquer sociedade e a questão estrutural faz parte do processo. Sem o mínimo de qualidade para as crianças no ambiente de ensino, o que se pode esperar? São incontáveis responsáveis que já passaram por governos, secretarias, coordenadorias e direções nestes oito anos e ninguém ainda resolveu o problema. Talvez por não ter havido uma tragédia, ainda. Se houver, saibam todos que são responsáveis.


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